Ramadhan

Ramadhán é o nono mês do calendário islâmico. Um mês sagrado e abençoado. Mas afinal, o que está por detrás da santidade e bênção deste mês?

Para começar, a prática de um dos cinco pilares do Islão, o jejum, está ligada a este mês. Para os muçulmanos, a chegada deste mês é sinónimo de chegada de bênçãos.

É um mês de treino espiritual e de elevação do espiritualismo, através da prática do Jejum, Salát e recitação do Al-Qur’án. Um mês de compaixão para com os próximos, através da prática de caridade, para que possamos partilhar no alívio da dor, sofrimento, fome e pobreza das criaturas de ALLAH.

Um mês em que renovamos o compromisso de sermos fiéis e leais para com  ALLAH, pelo cumprimento dos Seus mandamentos e em conformidade com os ensinamentos do profeta Muhammad (que a Paz e Bençãos de Deus estejam com ele).

Um mês para controlarmos os nossos desejos carnais e instintos malvados, lançando a semente da prática de boas acções e Taqwá (temor a ALLAH), a fim de satisfazermos somente a ALLAH, tornando-nos desse modo merecedores das Suas dádivas e favores. Ao iniciar-se o abençoado mês de Ramadhán, simultaneamente começam as bênçãos, dádivas e perdão por parte de ALLAH.

Os crentes muçulmanos ficam radiantes pelo facto de terem a oportunidade de se aproximarem mais do seu Criador ALLAH, e obterem o perdão d’Ele.Aparentemente este é um mês de restrição de comida e bebida durante o dia, mas na verdade, ele dá uma lição aos muçulmanos no que concerne à auto disciplina do Nafss (instinto). Pela aparência, neste mês o muçulmano permanece com fome e sede, resultando num corpo fraco. Contudo, esta mesma fome e sede fortificam o crente.

Na história islâmica, a primeira batalha (Batalha de Badr), a conquista de Makkah e outros acontecimentos semelhantes ocorridos no Ramadhán são o testemunho de que o muçulmano torna-se mais forte neste mês. Esta força é alcançada suprimindo o Nafss. Se o muçulmano suprimir os seus desejos, dando preferência aos desejos de ALLAH nos restantes onze meses, esta força poderá mantê-lo forte durante o ano todo.

Na verdade, o mês de Ramadhán é uma fórmula celestial maravilhosa para tornar o crente num verdadeiro Wali (amigo de ALLAH, ou santo).

O Al-Qur’án afirma: “Sem dúvida! Por certo, os Walis (amigos) de ALLAH; são os que não possuem qualquer tipo de medo nem tristeza. Aqueles que crêem e adoptam piedade.” [Al-Qur’án 10:62-63]

Este versículo explica-nos de que os Walis de ALLAH estão livres e isentos de todo o tipo de temor e preocupação. Um Waliullah é toda aquela pessoa que possui dentro de si duas qualidades: Imán (Fé) e Taqwá (Piedade e Temor por ALLAH). Abstêm-se de todo o tipo de pecado e más acções que ALLAH proibiu e pratica todo o tipo de boas acções que Ele ordenou.

Após esta afirmação, analisemos o seguinte versículo:

“Ó crentes! Foi-vos tornado obrigatório o Jejum tal como fora tornado obrigatório para os povos antepassados, para que possais ter Taqwá (tornar piedosos).” [Al-Qur’án 2:183]

Neste versículo, ALLAH considerou o Jejum como um meio de obtermos o Taqwá. Ao unirmos ambos os versículos, chegaremos à conclusão de que o Jejum é um meio para se tornar Waliullah (amigo de ALLAH).

Objectivo do jejum

Agora vamos analisar como é que por meio do Jejum podemos adquirir o Taqwá. Como sabemos, jejuar é cumprir com uma obrigação Divina. Através do jejum, será possível abster-se de aspectos proibidos e maldades. E existem maldades que estão relacionadas com a língua, algumas com a barriga e outras com os órgãos sexuais; todas elas têm a ver com o instinto humano.

Os instintos e os desejos humanos também são de naturezas diferentes: alguns são de animais ferozes, tais como matar, lutar, quebrar, rebentar, cumprir as exigências da fúria e da zanga; outros são animalescos, tais como sustentar a barriga, o corpo, comer, beber, dormir e aliviar as necessidades naturais; outros ainda estão relacionados com os órgãos privados, que em linguagem comum chamamos de desejo sexual.

Portanto, enquanto estes três instintos não estiverem controlados, não será possível adquirir o Taqwá. Então, torna-se necessário discipliná-los através do esforço árduo, exercício religioso, devoção e abstinência, o que quer dizer que, deve-se mudar o seu rumo para a direcção correcta, a fim de usá-los no lugar e tempo apropriado, abstendo-se completamente do seu uso incorrecto e inadequado.

Para alcançar esse objectivo, os entendidos estipularam em unanimidade, determinados princípios que são:

1. Comer pouco;

2. Falar pouco;

3. Dormir pouco;

4. Misturar-se pouco com as pessoas.

O mês de Ramadhán e o Jejum proporcionam uma excelente oportunidade para o cumprimento destes quatro princípios. O objectivo de nos treinarmos e pô-los em prática durante um mês é para que esses hábitos e condutas se tornem permanentes e enraizados nas nossas vidas, tornando-se fácil daí em diante. Ao jejuador fora proibido de comer, beber e satisfazer as necessidades sexuais desde a aurora ao pôr-do-Sol, facilitando o controle dos seus instintos.

Durante a noite, através do Taráwih e Qiyámullail (permanecer de pé na adoração de ALLAH, i.é, Salátul-Tahajjud e/ou outros), proporciona-se a oportunidade para se controlar o sono. Encorajando o Tiláwatul-Qur’án (recitação), excesso de Isstighfár (arrependimento) e Zikrullah, torna-se num método de falar pouco. Ao determinar o Itikáf (retiro) nos últimos dez dias como Sunnat, cria-se o hábito e método de minimizar o ajuntamento com as pessoas.

Estes são os objectivos do Jejum. Para se ter uma ideia acerca da sua importância, reflicta e ponha em prática estas afirmações do Profeta Muhammad (que a Paz e Bençãos de Deus estejam com ele):

1. "A pessoa que mentir durante o Jejum e não deixar de praticar más acções, ALLAH não necessita que ele deixe de comer e beber (i.é, se ele não estiver cumprindo com o objectivo do jejum, qual a necessidade de abster-se de comer e beber?).” [Al-Bukhari]
2. “E se um de vós estiver observando o Jejum, que não pratique acto de indecência. Caso alguém insultar, utilizar uma linguagem grosseira ou entrar em discussão, que diga: Eu estou de Jejum.” [Al-Bukhari e Musslim]
3. “Existem muitos jejuadores que nada obtêm excepto (suportarem) a fome e sede, e quantos adoradores que nada obtêm senão permanecerem acordados durante a noite.” [Ad-Dárami]
4. O Jejum é um escudo (de protecção contra os pecados) enquanto o jejuador não o quebrar. Foi perguntado: “O que quebra o escudo? O Profeta (que a Paz e Bençãos de Deus estejam com ele) respondeu: Mentira e calúnia (Ghibat).”

Objectivo do Ramadhán

Um dos aspectos mais salientes neste mês é a abstinência de comer, beber e manter relações sexuais. Pretende-se aqui abordar o aspecto relacionado à abstenção da alimentação, pois tem-se verificado que este aspecto extremamente importante, na maior parte dos casos está sendo negligenciado. Geralmente vemos que durante o Ramadhán, alimenta-se descontrolada e/ou excessivamente, não correspondendo ao objectivo pretendido.Deve-se procurar ter uma alimentação equilibrada evitando excessos, para que se possa visualizar a luz do Má’rifat (Reconhecimento) de ALLAH.

Na altura da refeição (i.é, Sehri e Iftár), estejamos cientes de que existem milhares de pobres pelo mundo fora passando fome, e que também o nosso país é forçado a incorrer em dívidas para importar comida que sirva de alimentação básica para o povo. Finalmente, sigamos os nossos antepassados, que não desperdiçavam um momento deste sagrado mês em coisas fúteis como discutir futebol, tirando o máximo proveito dele através de Ibádat, Tiláwatul-Qur’án, Zikrullah, Sadaqah (caridade), espírito de irmandade e solidariedade para com os pobres e necessitados, encorajando simultaneamente as mulheres para a prática das mesmas acções.

Que ALLAH Ta’ála derrame as Suas bênçãos e misericórdias sobre o nosso país, facilitando a todos os muçulmanos, o cumprimento das suas obrigações em conformidade com os ensinamentos do Profeta Muhammad (que a Paz e Bençãos de Deus estejam com ele), com saúde e bençãos na vida e nos bens. Ámin!