Imám Sháfei

12-04-2009 00:50

Imám Sháfei (RA) nasceu em 150 A.H. e viveu 54 anos. Ele pertencia a uma nobre linhagem, ligada à família da qual fazia parte Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam).

Um dos antepassados de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) era “Háshim”. Vejamos as duas geneologias:

1. Muhammad (sallallaho alaihi wassalam), o Mensageiro de ALLAH e abençoado filho de Abdullah; Abdullah era filho de Abdul Muttalib, que por sua vez era filho de Háshim;

2. Abu Abdullah Muhammad Shafi, o nobre filho de Idriss, que por sua vez era filho de Abbáss. Abbás era filho de Ussmán e este, filho de Shafi, que por sua vez era filho de Saib. Saib era filho de Ubaid e este, era filho de Abd. Este último era filho de Háshim. Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) é “Háshimi” e Imám Sháfei (RA) também é “Háshimi”.

 

O pai de Imám Sháfei (RA) viveu numa aldeia perto de Madina Munawwarah chamada Tabála. Depois de algum tempo, ele veio a Madina Munawwarah e quando ressentiu-se pelas dificuldades do sustento, seguiu para Shám (Síria) e permaneceu em Assqalán.

O pai de Imám Sháfei (RA) faleceu antes do seu nascimento. O seu tio e avô viviam próximos na cidade de Azad, onde a sua mãe o levara e permaneceu com o seu tio por um periodo de 8 anos.

 

Na altura em que se tornou Háfiz, contava apenas com 7 anos. De entre os livros de Hadice, o “Muatta” de Imám Málík (RA) era bastante famoso. Imám Sháfei (RA) memorizou-o quando tinha apenas 10 anos.

Com esta mesma idade, a sua mãe enviou-lhe para Makkah Mukarramah. O seu tio vivia em Makkah. Porém, devido às dificuldades financeiras, ele não pôde enviá-lo para Madina, onde as lições de Imám Málik (RA) eram reconhecidas ao mais alto nível em toda a Arábia. A sua mãe enviou-o para Makkah afim de ele estudar e memorizar a história da descendência dos Árabes. Isto era considerado uma necessidade absoluta de entre os árabes com posição elevada.

 

Apesar desta importante necessidade, Imám Sháfei (RA) não se mostrava inclinado para tal. Além do mais, ele pertencia à família de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam), o que era natural inclinar-se em estudar e compreender aquilo que Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) havia pronunciado em cada ocasião. Sendo essa a sua inclinação, imediatamente começou a memorizar tudo quanto escutava e escrevia-o em ossos, afim de preservar em panelas de barro.

 

Certa vez, ele sonhou com Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam), que lhe perguntou: “Rapaz, de que tribo és tu”? Ele respondeu: “Senhor, eu sou da vossa tribo e uma mancha dos raios do sol”. Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) chamou-lhe perto de si e aplicou a sua abençoada saliva sobre os lábios e boca dele e disse: “ALLAH irá abençoar-te”.

Passado alguns dias, ele sonhou com Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) liderando Salát no Ca’aba, após o qual, ele (sallallaho alaihi wassalam) começou a transmitir conhecimentos às pessoas. Imám Sháfei (RA) aproximou-se e solicitou a Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) para que lhe ensinasse algo, ao que Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) presenteou-o com uma pequena balança. Ao procurar a interpretação do seu sonho, uma pessoa piedosa disse que ele tornar-se-ia o Imám da propagação do Sunnat de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) no mundo.

 

Certa vez, um comerciante de papagaios veio ter com Imám Málik (RA) perturbado, e disse: “Eu vendi um papagaio que fala muito a uma pessoa e disse-lhe para não se preocupar acerca disso.

Passado algum tempo, o cliente voltou queixando-se de que o papagaio não falava absolutamente nada. Isto não me agradou e resultou daí uma discussão entre nós.

Durante a discussão, eu disse-lhe que o papagaio não se calava e, caso isso acontecer, então darei ‘Taláq’ (divórcio) à minha mulher. Será que a minha mulher está divorciada ou não”?

O Imám respondeu de que o divórcio era válido, visto que o papagaio continuou em silêncio. O triste comerciante estava bastante arrependido e partiu.

 

Imám Sháfei (RA) seguiu-o por uma pequena distância e perguntou-lhe: “O seu papagaio fala por um longo período ou ele permanece em silêncio por um longo período”? O comerciante respondeu de que o papagaio falava mais, mas que de vez em quando permanecia em silêncio. Então o Imám disse-lhe para não se preocupar, visto a sua mulher não estar divorciada. De seguida, ele regressou à aula e sentou-se.

O comerciante voltou e foi ter com Imám Málik (RA), pedindo-lhe que revesse o caso. Este respondeu lhe que não havia necessidade para tal, uma vez que o caso estava bastante claro e que a mulher dele estava divorciada. O comerciante explicou-lhe o que Imám Sháfei (RA) havia-lhe dito.

 

Quando Imám Málik (RA) ouviu isso, ficou nervoso e perguntou a Imám Sháfei (RA) porque é que havia dado um “fatwá” errado.

Este manteve a sua composição e respeitosamente afirmou: “Pondere; o comerciante diz de que o papagaio fala por mais tempo e permanece em silêncio por menos tempo. Recorde a narração na qual o senhor afirmou na minha presença, que Fátima Bin Quais veio ter com Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) e disse: “Ó Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam), Muáwiya e Abu Jahim propuseram ambos para o casamento. Eu casarei com aquele que vós me ordenareis. Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) disse: “Fátima, o que é que Muáwiya possui? Ele é pobre, enquanto que a vara nunca cai dos ombros de Abu Jahim”.

Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) sabia que Abu Jahim dormia e trabalhava também. Pelas palavras “a vara nunca cai” significa que ele trabalha mais e está sempre pronto para lutar e morrer. Isto é um uso comum e a ordem da totalidade é atribuida à maioria.

O papagaio do comerciante fala por mais tempo do que permanece em silêncio e quando surge ocasião, ele conversa muito. Assim, se o comerciante pronunciou ‘Taláq’ naquele estado de alegria, então o divórcio não teve lugar”.

Após uma análise cuidadosa, Imám Málik (RA) deduziu correctamente. Certamente, o divórcio não teria ocorrido.

 

Abençoadas por ALLAH, estas personalidades não se zangavam quando as suas opiniões eram contrariadas, pelo contrário, elas ficavam satisfeitas pela capacidade brilhante dos seus discípulos.

O professor Imám Málik (RA), disse ao aluno: “Agora já desenvolveste a habilidade de enunciares leis e concederes “fatwás” (veredictos). Eu autorizo-te a decretares “fatwás”.

 

Um incidente semelhante ocorreu com um outro professor de Imám Sháfei (RA) – Sufiyán Bin Uyayna (RA) – um Imám de grande estima e reputação em Makkah Mukarramah.

Imám Sháfei (RA) afirmou que, se não fosse devido a Imám Málik (RA) e Sufiyán (RA), o conhecimento de Hadice não teria permanecido em Hijáz.

Certa vez, Sufiyán (RA) pediu a Imám Sháfei (RA) para que lhe explicasse e elucidasse o seguinte incidente: Nabi (sallallaho alaihi wassalam) saiu do Massjid na compainha de Ummul-Mu’minin Safiyah (RA). Ao longo do percurso, eles encontraram duas pessoas; dirigindo-se a elas, o Profeta (sallallaho alaihi wassalam) disse: “Comigo está a minha esposa Safiyah”. E disse também: “Shaitán corre no sangue humano”.

 

Imám Sháfei (RA) disse que se tratava de um ensinamento obrigatório de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam); antes daquelas pessoas suspeitarem de quem se encontrava junto de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam), era melhor que ele próprio os dissesse. Caso Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) não os tivesse informado, haveria a possibilidade de elas se envolverem no pecado de acusar falsamente uma pessoa, o que poderia pôr em causa o Imán delas, uma vez que acusar alguém falsamente é semelhante ao Kufr (descrença). Sufiyán disse: “Sháfei, agora podes passar “fatwás”. Tal como ALLAH desejou, que bom comentário foi aquele!

 

Ao chegar a Makkah Mukarramah, Imám Ahmad Ibn Hambal (RA) e dois companheiros decidiram ir ao encontro de uma pessoa piedosa. Já no “Haram”, encontraram uma multidão ao redor de Imám Sháfei (RA), à qual dizia: “Ó pessoas do Iráq! Ó pessoas da Síria! Caso vós quiserdes saber algo em relação a algum Hadice, então perguntai-me”.

Imám Ahmad e companheiros decidiram perguntá-lo o significado do seguinte Hadice: “Não afugente os pássaros dos seus ninhos durante a noite”.

Imám Sháfei (RA) respondeu: “Na era pré-islâmica, os árabes tinham por hábito tomar agouro a partir de pássaros, no concernente às suas viagens nocturnas. Eles costumavam afugentar os pássaros para fora dos seus ninhos durante a noite. Se os pássaros voassem para o lado direito, consideravam isso como um bom sinal, prosseguindo assim com a viagem. Caso voassem para o lado esquerdo, eles cancelavam-na”.

Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) disse: “Tudo isto é fútil e em vão. Façai todo o vosso trabalho confiando em ALLAH. Ele é o Preenchedor das necessidades”.

 

Após ter adquirido conhecimento de Hadice e Fiqh, Imám Sháfei (RA) seguiu em busca de conhecimento em outros campos e ciências. Aperfeiçoou-se em áreas como poesia, lexicografia, história, sintaxe, métrica (ciência de versificação) e intuição. Aprendeu também astronomia e reconhecimento das estrelas, mas não chegou a utilizá-los. Ele conhecia milhares de poemas de grandes poetas.

O seu texto era tão claro como o cristal. Grandes peritos estavam admirados e espantados pelo seu estilo, sequência, eloquência e continuidade no texto. Grandes lexicógrafos, Imáms e Mujáhids coroaram Imám Sháfei (RA) como o chefe dos Mujáhides. Ele era perito na linguagem dos árabes e tinha um vasto conhecimento acerca deles.

 

Ele era tão excepcional na intuição e fisionomia, que levou as pessoas a escreverem acerca da sua intuição nos respectivos livros.

Certa vez, Imám Sháfei (RA) e um seu companheiro dirigiam-se para fora de Makkah, quando uma pessoa apareceu à frente deles; o companheiro de Imám Sháfei (RA) disse: “Vós estudastes fisionomia;

então diga-me qual é a profissão deste homem (que acabara de chegar)”? Imám Sháfei (RA) respondeu que ele era carpinteiro ou alfaiate. O companheiro perguntou ao homem e este disse-lhe que previamente era carpinteiro mas que agora é alfaiate.

 

Imám Sháfei (RA) era pobre. Após a aquisição do conhecimento de Al-Qur’án e Hadices, ele tornou-se bastante rico. Prendas eram-lhe enviadas pelos reis, ministros e oficiais, tendo sempre uma vida onde não lhe faltasse algo.

Ele não acumulava riqueza, mas sim distribuia-a para os desamparados, viúvas e órfãos. A maior parte da sua riqueza era distribuída, deixando uma pequena parte para si. Certa vez, numa noite de Eid, quando ele regressava a casa vindo do Massjid, um escravo duma pessoa rica aguardava-o. Após cumprimentá-lo, o escravo entregou-lhe um saco de dinheiro a mando do seu amo. Logo após, chegou uma pessoa e disse a Imám Sháfei (RA) que em sua casa havia nascido uma criança, mas que não tinha dinheiro. Ele entregou-lhe o saco inteiro e sorrindo entrou para a sua casa.

 

Num outro Eid, Imám Sháfei (RA) nada possuía em sua casa. A sua esposa pediu-lhe que fosse obter algum empréstimo, ao que conseguiu um empréstimo de 70 Ashrafiyas. Pelo caminho, foi cercado por pessoas desamparadas, às quais entregou-lhes 50 Ashrafiyas, trazendo para casa os restante 20. Ao chegar à casa, mesmo antes que ele pudesse entregar essa quantia à sua esposa, um Quraishita chegou à sua porta com tal necessidade, que ele entregou-lhe todos os 20 Ashrafiyas. Após isso, ele entrou silenciosamente e foi dormir.

Harun-ar-Rashid chamou o seu ministro Jafar Barmakki e perguntou-lhe à cerca do incidente que ocorrera na noite anterior. Ele respondeu de que fora informado acerca do mesmo por um desconhecido. De seguida, Harun-ar-Rashid enviou-lhe 1000 Ashrafiyas, insistindo para que os aceitasse.

 

Imám Sháfei (R.A) disse aos seus estudantes que, se encontrassem alguma lei que contradissesse o Al-Qur’án e os Hadices em qualquer um dos seus livros, então eles deveriam estar cientes de que o professor já as havia revogado.

Ele disse a Imám Ahmad Ibn Hambal (RA):

Ahmad, tu possuis mais conhecimento acerca dos Hadices correctos do que eu. Tu deverás informar-me caso alguma das minhas opiniões esteja contrária a qualquer Hadice, para que eu possa renunciá-la e actuar conforme o Hadice”.

Alguém perguntou-lhe se havia visto alguém como Imám Málik (RA), ao que respondeu negativamente.

Ele também costumava dizer que os Sahábas (RA) são superiores a nós em Ilm (conhecimento), Ijtihád (esforço) e Taqwá (piedade).

 

Após o Salátul-Fajr e até ao nascimento do Sol, ele costumava leccionar aulas de Fiqh. De seguida, ele leccionava Hadice e após isso, um diálogo geral seguido duma discussão académica.

Após o Salátuz-Zuhr, ele ensinava literatura, poesia, métrica, sintaxe, lexicografia. Depois, descansava até à hora do Salátul-Assr.

Entre Assr e Maghrib, ocupava-se no Zikr e, após o Salátul-Ishá, passava um terço da noite a dormir, o segundo terço, escrevendo Hadices e Fiqh e, no último terço, recitava Al-Qur’án e efectuava Saláts Nafls.

 

Ele tinha um grande entusiasmo em recitar o Al-Qur’án em voz melodiosa e em todos os dialectos árabes. De vez em quando fazia Imámat e, devido ao efeito do seu tom, as pessoas começavam a chorar e descontrolavam-se.

Salienta-se aqui que Umar (RTA) recomendava a aprendizagem do sagrado Al- Qur’án através de Abi Bin Káb (RA). A linhagem dos professores de Imám Sháfei (RA) está ligada a Abi Bin Káb (RA). Imám Málik (RA) costumava dizer que ninguém mais inteligente e compreensivel veio ter comigo à procura do Ilm do que Muhammad Bin Idris As-Sháfei (RA). Imám Málik (RA) gostava profundamente do Quirát de Imám Sháfei (RA).

 

Certa vez, Imám Sháfei (RA) disse a Imám Ahmad (RA): “Ouvi-lhe a dizer de que se alguém abandonar o Salát torna-se Káfir (descrente)”? Imám Ahmad (RA) respondeu afirmativamente. Depois disse: “Caso esse Káfir desejar tornar-se muçulmano, então o que deverá ele fazer!?” Imám Ahmad (RA) respondeu que ele deverá fazer o seu Salát.

Imám Sháfei (RA) perguntou se o Salát de um Káfir é válido ou se primeiro é necessário tornar-se muçulmano e depois fazer o seu Salát.

Na verdade, quem abandonar o Salát não se torna Káfir, mas sim muito perto de Kufr (descrença). Este é o Hadice sob o qual Imám Ahmad (RA) havia-se baseado.

Ele teve muitos estudantes, dos quais alguns alcançaram uma grande fama. Imám Ahmad Ibn Hambal (RA) era um deles e foi reconhecido também como um Imám. Abdullah, filho de Imám Ahmad (RA), narra que certa vez perguntou ao seu pai acerca do “Sháfei” para quem ele sempre suplicava.

Ele disse: “Imám Sháfei (RA) é como o Sol para a Terra e como a saúde para o corpo; o que é mais superior do que estas duas coisas”?

Quando Imám Sháfei (RA) faleceu, um santo piedoso viu Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) no sonho perguntando-lhe se havia intercedido a favor do Imám, ao que Nabi (sallallaho alaihi wassalam) respondeu que ele havia sido abençoado sem ajuste de contas.

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