Imam Málik

12-04-2009 00:43

Imám Málik (Rahmatulláhi Aleihi) nasceu e cresceu em Madina, onde o querido Profeta (sallallaho alaihi wassalam) descansa.

O seu pai chamava-se Anass e pertencia a uma casta elevada. O seu bisavô Ámir era residente de Yémen, mas havia viajado para Madina. O seu avô também se chamava Málik (Málik Bin Ámir). Este era de entre os que haviam visto os Sahábas (companheiros do Profeta (sallallaho alaihi wassalam)). Ele estava ao serviço de Ussman Gani R.A., e quando este faleceu, foi Málik Bin Ámir que retirou o seu corpo dos inimigos e enterrou-o.

 

O avô de Imám Málik ouviu narrações de Umar R.A., Ussman R.A., Ummul- Muminin Aisha R.A., Tal-ha R.A. e Aquil R.A.

O pai de Imám Málik R.A. escutou narrações de Abdullah Ibn Umar R.A. Assim, toda a linhagem desta família era enriquecida de Ilm.

Sempre que Imám Málik R.A. proferisse alguma palestra, afirmava: “Eu escutei do meu pai Anass, que por sua vez escutou do seu pai Málik, ou seja Málik Bin Amir, que por sua vez escutou de Ussman, Umar ou Aisha R.A..” Esta mesma sequência é adoptada nas lições de Hadice até ao presente dia. Onde quer que sejam dadas lições de Din, especialmente de Hadice, esta sequência corrente de narradores é ainda mantida.

 

Imám Málik R.A. escreve no seu livro Muatta Imám Málik, de que o número total dos seus professores é 75. Eis aqui o nome de alguns professores de Imám Málik R.A.:

Abubakr Muhammad Bin Shab-al- Zuhri R.A. (também conhecido como Zuhri e Ibne-Shab Zuhri)

Jafar Sádiq Bin Muhammad R.A.

Abu Házim Bin Salma Bin Dunia R.A.

Abu Ussman Rabi-ul-Rai R.A. (Rabi)

 

Ele aprendeu de muitos seniores, especialmente de Rabi cujo nome completo é Abu Ussman Rabi-ul-Rai. Rabi era de entre aqueles que não teriam visto Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) e estudado com os Sahábas. Ele era piedoso e de alto calibre.

Imám Málik R.A. tinha tanta afinidade com Rabi, de que as pessoas referiam a Rabi como Sheik Málik, e sempre que o nome de Rabi era mencionado nos livros, era escrito como tal. As lições de Rabi eram frequentadas por grandes sábios tais como Imám Málik, Hassan Bassri, Auzái Yáhia Anssari. Imám Málik R.A. costumava dizer que desde a morte de Rabi, o sabor da jurisprudência estava a diminuir.

 

Imám Málik R.A. encontrava-se sempre engajado em servir notáveis e piedosas personalidades. Ele participava nas lições de Ulamás, Muhaddecins (professores de Hadice) e Fuqahás (jurisprudentes) do seu tempo que não possuíam paralelo. Ele sempre afirmava que se encontrava sentado entre os Fuqahás de alta calibre e não entre estúpidos. Imám Málik R.A. era uma pessoa bastante piedosa. O seu respeito por Hadice era tão elevado que deixa uma pessoa espantada ao ouvi-lo.

Certa vez, enquanto leccionava Hadice, um escorpião penetrou sob a sua roupa, começando a picá-lo na cintura. Ele permaneceu sentado em respeito e continuou com a lição sem se movimentar ou terminar a mesma antes do tempo.

Quando ele completou a lição, levantou o seu kurta (túnica) apercebendo-se então que o escorpião o havia mordido setenta vezes.

Os seus estudantes dizem que eles haviam notado que a sua cara mudava de côr, porém não tiveram coragem de perguntar o motivo nem ele próprio dissera algo.

Esta era a etiqueta de Hadice e isto é o que chamamos de verdadeiro e sincero amor para com o Profeta (sallallaho alaihi wassalam) Quando ocupado com os dizeres de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) até a preocupação para a vida e a morte também desaparecia.

 

Antes de cada lição de Hadice, Imám Málik R.A. costumava tomar banho, vestia-se elegantemente, perfumava-se e penteava o seu cabelo.

Os estudantes sentavam-se com o máximo de respeito, baixando as suas cabeças e folheavam as páginas de tal forma que nenhum som era ouvido. Tudo isto devido às abençoadas palavras de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) O chão da sala era carpeteado e nem um galho era visível em algum lugar.

Consta nos registos que na viajem para Madina, o Khalifa Abbássi Mahdi escutou os Ahádice compilados do Muatta de Imám Málik, e também ordenou aos seus filhos Harun e Mussa para que fizessem o mesmo. Os filhos chamaram Imám Málik R.A. ao que ele respondeu que o Ilm não vai para as cortes reais, mas sim os das cortes é que vêm ao encontro do Ilm. Os filhos tiraram uma lição disso e vieram atender às lições de Imám Málik R.A. com todo o respeito.

 

É dito que Imám Málik R.A. costumava recitar os Ahádice por sí próprio. Ele disse que era prática dos Ulamás de Madina que o estudante recitasse enquanto o Sheik o escutava, para que, quando houvesse necessidade, ser fácil ele (o Sheik) dar explicação. Quando Mahdi foi informado acerca disso, ele aconselhou aos seus filhos para que recitassem primeiro e deixassem que o Imám escutasse.

 

Imediatamente após tornar-se Khalifa, Harun Rashid seguiu para Hajj. Aquando da sua chegada a Madina, as pessoas saíram ao seu encontro para lhe dar as boas vindas. Entre elas encontrava-se Imám Málik R.A.

Quando Harun Rashid viu-lhe, ficou bastante satisfeito dizendo-lhe que o seu livro Muatta havia chegado a Bagdad e que ele havia dado ênfase ao estudo do mesmo aos jovens da sua família.

Certa vez, Harun Rashid convocou Imám Málik R.A. à corte real para que recitasse os Ahádice de Muatta aos seus filhos.

Este apresentou-se sem que levasse consigo o Muatta; quando Harun Rashid perguntou-lhe qual a razão para tal, ele respondeu-lhe: “Harun, o Ilm veio à sua casa; humilhe-o ou honre-o”. Harun permaneceu em silêncio e juntamente com os seus filhos, prosseguiu às lições do Imám.

Uma grande multidão havia-se aglomerado para o mesmo fim; Harun Rashid solicitou ao Imám para que dispensasse os restantes estudantes e recitasse o Muatta somente para os seus filhos, ao que Imám Málik respondeu: “O quê? Será que eu devo destruir os direitos de tantas pessoas à custa de uma pessoa?” Harun de novo permaneceu em silêncio.

 

Quando Harun se sentou sobre o Massnad (i.é, plataforma de onde as lições eram dadas), Imám Málik afirmou: “Amirul- Mu’menin, humildade é uma boa qualidade”. Ouvindo isso, Harun Rashid imediatamente desceu da plataforma e sentou-se juntamente com os outros estudantes.

Em seguida, Harun pediu-lhe que recitasse. Imám Málik R.A. retorquiu: “Isso é contrário ao hábito”, indicando um dos seus alunos (Muin bin Issa) para que recitasse. Harun e seus filhos respeitosamente escutaram o Muatta.

Nota-se a partir destas passagens quanto independente era Imám Málik R.A. Ele não sacrificou o valor do Ilm para agradar os reis.

 

Imám Málik R.A. possuía uma notável memória. Aquilo que ele escutava, memorizava-o. Certa vez, ele acompanhou o seu professor Rabi ao Imám Zuhri R.A. Nesse dia Imám Zuhri relatou 40 Ahádice. Quando eles foram ao ajuntamento no dia seguinte, Imám Zuhri solicitou o seu livro de apontamentos para que ele pudesse leccionar quais os benefícios que continham na lição do dia anterior.

Rabi disse-lhe que nessa aglomeração estava presente uma pessoa tal que poderia narrar os 40 Ahádice do dia anterior sem qualquer hesitação.

Zuhri R.A. perguntou quem era tal pessoa, ao que Rabi mencionou o nome de Imám Málik R.A., que seguidamente narrou todos os 40 Ahádice, sem nenhum erro.

 

Até hoje existem estudantes afortunados que se sentam por debaixo da sombra das árvores e aproveitam a luz das lâmpadas, permanecendo engajados à procura de Ilm; isto é na verdade um êxito, sendo estes os que obtêm maior sucesso e ocupam altos graus. Imám Málik R.A. não era excepção, pois também passou por tais períodos difíceis enquanto procurava o Ilm; certa vez teve que vender a madeira do seu telhado para poder suportar as suas despesas.

Ele costumava dizer que a pessoa não pode atingir a perfeição no Ilm enquanto não tiver experimentado a pobreza, e isso não diminui em nada a sede pelo Ilm.

Nas tardes quentes da Arábia, ele apresentava-se pontualmente na presença de Imám Nafe R.A.

Vejamos como este entusiasmo pelo Ilm fora recompensado. Hoje, sempre que o seu nome é mencionado, cabeças de grandes teólogos e intelectuais baixam em seu respeito.

Imám Málik R.A. atendeu as classes de Imám Nafe R.A. por um período de 12 anos, tornando-se em seu vice e representante.

 

Os Ulamás deram preferência a Makkah sob Madina, mas na opinião de Imám Málik R.A. Madina é melhor do que Makkah, e os místicos sentem da mesma forma.

Quando Abbássi Khalifa Mahdi tomou as rédeas do Califado, passados 2 anos ele viajou para Hijáz com o intuito de fazer Hajj. Ele foi recebido e saudado pelos Ulamás e proeminentes pessoas perto da cidade. Entre eles, estava Imám Málik R.A. Quando Mahdi deparou com Imám Málik R.A., cumprimentou-lhe abraçando-o. Como nesse ano Hijáz sofria de seca e fome, então Imám Málik R.A. disse-lhe: “Vós estais a prosseguir para uma cidade onde residem os filhos dos Anssáres e Muhájirines. Eles viveram por debaixo da sombra de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam)”.

 

Mahdi apercebeu-se do que o Imám pretendia dizer e enviou 500 mil Dirhams ao Imám para que fosse distribuído de entre os necessitados.

Ele (Mahdi) tornou a enviar mais 3 mil Ashrafis (nome de moeda) ao Imám, com um convite de ele lhe juntar na viagem para Bagdad. Imám Málik R.A. recusou o convite com o dizer do Profeta (sallallaho alaihi wassalam) de que: “Madina é melhor para si se soubesses. Por conseguinte, como posso eu deixar a cidade de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam)?”

 

O Khalifa Mahdi enviou um transporte ao Imám para que ele pudesse chegar à corte real do Khalifa. Imám Málik R.A. recusou a usá-lo dizendo: “Que coragem tem Málik para percorrer as ruas utilizando transporte, onde Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) caminhava a pé”? Assim, apesar de estar doente ele foi a pé.

 

De entre todas as obras de Imám Málik R.A., o Muatta ocupa o grau mais elevado. Os Ulamás aceitam o Muatta como sendo o melhor livro após o Qur’án. Depois do Qur’án, este foi o primeiro livro quanto às palavras de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) e a primeira compilação de Ahádice que surgiu de Madina.

O estatuto de Al-Bukhári de Imám Bukhári R.A. apenas surgiu após um século. Imám Sháfi R.A. disse: “Após o Qur’án não existe outro livro sob a face da terra melhor que o Muatta de Imám Málik R.A.

Harun Rashid pretendia exibir o Muatta no Ká’bah para que todos os países pusessem em prática, mas Imám Málik R.A. recusou o pedido.

Imám Málik R.A. passava o seu tempo leccionando, emitindo Fatwas (vereditos) ou recitando o Qur’án. Mais Ibádah (adoração) era feito na noite de Jumu’ah (Quinta para Sexta) e na primeira noite de cada mês ele passava a noite inteira em Ibádah.

Ele considerava qualquer barulho ou disputa junto da abençoada campa de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) como grande desrespeito ao estatuto e dignidade de Nabuwwat (profecia). O Hadice de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) não era narrado sem que ele não tomasse banho e feito o Wuzú (ablução).

 

Ele nunca percorreu as ruas de Madina utilizando transporte. A sua visão era: “Como é possível que a terra sob a qual as abençoadas pegadas do líder dos dois mundos caminharam, sejam pisadas por um animal?”

Nenhuma noite passava sem que ele fosse abençoado com a visão de Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) no seu sonho. Os místicos podem facilmente dizer que ele poderia ter atingido o estatuto de Sahábah.

Quando o abençoado nome de Muhammad (sallallaho alaihi wassalam) era mencionado, a cor da sua face mudava.

Certa vez, Imám Málik R.A. estava a mostrar o seu estábulo a Imám Sháfi R.A. O segundo elogiou alguns dos seus cavalos. Imám Málik R.A. ofertou todo o estábulo a Imám Sháfi R.A. Todos os anos, ele ofertava onze mil Dinares a Imám Sháfi R.A.

Quando Imám Sháfi R.A. pernoitou em casa de Imám Málik R.A., este trouxe e colocou a comida pessoalmente, trazendo também água de Wuzú para o Salatul-Fajr. Quando Imám Málik R.A. se despediu dele, pagou pelo aluguer do transporte ofertando também um saquinho contendo dinheiro.

 

Conforme acima citado, Imám Málik R.A. ficou bastante triste quando o Khalifa Harun Rashid ocupou o lugar junto de si quando se encontrava a leccionar. Contudo, quando Imám Abu Hanifa R.A. lhe visitou, ele estendeu um lençol para que o Imám se sentasse sobre o mesmo. E quando Abu Hanifa R.A. despediu, ele afirmou: “Este é Abu Hanifa de Iraque, que se ele desejar provar de que estes pilares são de ouro, poderá fazê-lo”.

Estas personalidades santas, não respeitavam nem valorizavam os bens materiais tanto quanto o faziam às pessoas possuidoras de Ilm (sabedoria).

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