Imam Abu Hanifa

12-04-2009 00:41

Numan Bin Thabit era o nome próprio do Imam, originário da Pérsia, onde nasceu no ano 80 de Hijra. Ainda pequeno viu alguns Sahabas, por exemplo, Ali Bin Abi Talib, Anass Bin Malik, Sahal Bin Saad, etc.

 

O seu avô converteu-se ao Islão e o seu pai era um comerciante de seda, por isso ele também cresceu como comerciante. Então montou uma fábrica de vestuário, que por sinal progrediu bastante.

Porém, na época de Suleiman, quando a educação e a aprendizagem foram largamente difundidas, despertaram-no a vontade de estudar. Por coincidência, nessa época ocorreu um episódio interessante que motivou a sua intenção.

 

Certo dia ele estava caminhando para o mercado, passou pela frente da casa do Imam Shabi, que era um famoso Imam de Iraque.

Quando o Imam Shabi o viu, pensou que fosse um jovem estudante, chamou-o e perguntou-lhe: “Para onde vais?

Abu Hanifa mencionou o nome dum comerciante.

O Imam Shabi disse: “Quero saber se tu estudas!”, ao que Abu Hanifa respondeu negativamente.

O Imam Shabi disse-lhe: “Eu noto em ti uma alta capacidade e competência, aconselho-te a passares o teu tempo junto aos Álimos.”

 

Esse valioso conselho penetrou no coração de Abu Hanifa, mas contudo, o que realmente o motivou a estudar foi quando uma mulher veio ter com ele com uma pergunta acerca do divórcio. O jovem Abu Hanifa não pôde responder. Então, a partir daí, ele decidiu ir à busca de sabedoria e tomou por professor principal Hammad, um grande Imam e Álimo de então, e aluno de Anass (R.T.A.).

Depois que Imam Hammad descobriu que no grupo dos seus alunos não havia outro mais inteligente que Abu Hanifa, ordenou que este se sentasse sempre à frente de todos.

 

Imam Abu Hanifa era residente da cidade de Kufa, uma cidade nova e fundada no ano 17 de Hijra. Ali (R.T.A.) tinha tomado essa cidade como sua capital.

Cerca de 1050 sahabas viveram em Kufa e é por isso que se tornara no centro de hadice e sabedoria.

Além de Imam Hammad, Abu Hanifa teve também outros grandes Imamos de então como seus professores.

Abdallah Ibn Mubarak (que foi um dos professores de Imam Bukhari) disse que certa vez estava sentado com Imam Malik e logo apareceu um senhor, a quem Imam Malik prestou muito respeito e fê-lo sentar junto de si. Depois do referido senhor se ter ido embora, o Imam Malik perguntou-lhe: “Sabes quem é esse senhor? É Abu Hanifa do Iraque. É tão inteligente, que se quiser provar que esta coluna é de ouro o pode fazer.”

 

A sua arte de debate foi demonstrada graficamente quando Abu Hanifa enfrentou os Khawarij do seu tempo. Esta seita radical que rebelou-se contra o califado de Ali (RTA), literalmente acreditavam que em qualquer assunto o julgamento só podia ser feito por ALLAH e não se pode aceitar arbítrio de ninguém.

Numa das noites, eles invadiram a sua sala de aulas e deram-lhe um ultimato: “Concorde connosco ou então nós vamos te matar.

Abu Hanifa conseguiu convencer-lhes que antes deveriam debater o tal assunto com ele, pedindo-lhes para escolherem um porta-voz.

Ele perguntou-lhes: “Quem de entre nós decidirá quem possui o argumento mais forte?”

Depois de os Khawarij discutirem o assunto, Abu Hanifa informou-os que eles próprios já estavam a contrariar a sua crença ao aceitarem um árbitro.

 

Na questão dos direitos da mulher, ele não tem rival. Por exemplo, ele diz que a mulher pode ser Qadi (juiz). Ele diz que é melhor a filha escolher um marido do seu gosto do que os pais obrigarem-na a casar com um homem que ela não gosta.

Alguns seguidores de Abu Hanifa actualmente contrariam os princípios de Abu Hanifa pois ele dizia que na matéria da Lua vista num canto do mundo servia para qualquer país. Ele proibia comer-se do mar tudo o que não fosse peixe.

Fazem Zuhr na primeira hora independentemente de ser Verão ou Inverno; fazem Assr na hora Makruh (desanconselhável), quando faltam poucos minutos para o Magrib. Tudo isto é contrário aos ensinamentos de Abu Hanifa.

 

O Imam Malik era 13 anos mais novo que Abu Hanifa, mesmo assim Abu Hanifa o respeitava muito.

Abu Hanifa respeitava tanto o seu professor Hammad, afirmando que enquanto Hammad era vivo, nunca estendera os seus pés em direcção a casa do professor.

Yazid, o Governador do Iraque quis nomear Abu Hanifa para o cargo de Juiz, mas este recusou-se. Então, Yazid jurou e disse: “terás de aceitar forçosamente.”

Porém, Imam Abu Hanifa manteve a recusa. Yazid, zangado, ordenou que o Imam fosse açoitado com dez chicotadas diariamente, tendo sido lhe aplicada essa sentença injusta, mesmo assim ele manteve a sua decisão de não aceitar o cargo e preferiu ir se embora para Makka, onde permaneceu até os finais do ano 136 de Hijra.

 

Mais tarde na era de Mansur, Imam Abu Hanifa foi apresentado no palácio real e considerado o maior Álimo do mundo. Foi então que Mansur o quis nomear para o cargo de Juiz principal. O Imam recusou-se claramente e disse: “eu não estou apto para ocupar esse cargo.”

Mansur irritado disse: “tu estás a mentir.” Então, o Imam disse: “Se eu estiver a mentir, então é correcto o que eu disse, pois um mentiroso não pode ser nomeado juiz”.

E ele se manteve firme na sua posição de recusa isto porque acreditava firmemente na judiciária independente. Mansur prendeu-o no ano 146 de Hijra e foi torturado e espancado.

Num certo dia, ele começou a chorar, então os seus colegas prisioneiros espantados com essa atitude perguntaram-lhe porque é que estava tão triste. Ele respondeu: “Esses açoites e paredes não me podem fazer chorar mas estou a chorar por causa do sofrimento da minha mãe.”

 

Mesmo assim, a sua fama era tão grande que os alunos iam aos milhares à prisão para aprender dele. Então, para o eliminar de vez, o Governo envenenou a comida de Abu Hanifa e foi assim que ele acabou por falecer.

Quando ele sentiu o efeito do veneno, fez sajda e morreu nesse estado. Ele morreu na prisão. No seu Salatul Janaza participaram 50.000 pessoas. No total foram feitos seis vezes o Salatul Janaza e foi sepultado na hora de Assr.

O historiador Khatib diz que a fama de Abu Hanifa era tão grande que vinte dias depois de ter sido enterrado as pessoas ainda continuavam a vir para fazer o seu Salatul Janaza.

Alguns dias após o falecimento de Imam Abu Hanifa, Abdullah Ibn Mubarak foi a Bagdad e quando foi ao Cabr (sepultura) de Abu Hanifa chorou bastante e disse: “Ó Abu Hanifa, ALLAH que tenha misericórdia de ti – Ibrahim quando morreu deixou um seu sucessor, porém, tu não deixaste no mundo nenhum sucessor.”

 

O local onde Abu Hanifa foi enterrado é ainda hoje visitado por milhares de pessoas.

No ano 459 de Hijra, um rei mandou construir uma cúpula sobre a sua campa e próximo uma escola. Essa escola ainda hoje é muito conhecida. Imam Abu Hanifa era um homem muito piedoso, mantinha-se longe das coisas proibidas, passava a maior parte do seu tempo calado e na meditação. Se alguém perguntasse algo, caso soubesse respondia ou senão mantinha-se calado. Era muito generoso, não pedia nada a ninguém, mantinha-se à distância das pessoas, desprezava os cargos mundanos.

Não fazia intrigas, quando falava de alguém mencionava-o positivamente, era um grande sábio. Vestia-se bem, era bonito, tinha estatura média e era eloquente. Não era seu hábito servir de Imam nos salates em jamat.

 

O Governador de Kufa certa vez disse-lhe: “Se me visitares de vez em quando será um grande favor e privilégio para mim”. O Imam Abu Hanifa respondeu: “O que é que vou ganhar ao encontrar-me contigo? Pois se fores bondoso para comigo, então receio que cairei na tua malha e ficarei a dever-te favores e se me censurares sentir-me-ei humilhado. Eu não preciso da tua riqueza, a riqueza que tenho ninguém a pode arrancar.”

 

O Imam Abu Hanifa tinha grandes negócios, lidava com grandes comerciantes e enormes valores. Era muito honesto e cuidadoso e não permitia que um único centavo de haram entrasse no seu cofre. Os álimos dizem que a escola de Abu Hanifa tem visões profundas na ética de comércio (Tijára), isto devido ao seu envolvimento pessoal, experiência e conhecimento profundo na matéria.

 

Certa vez enviou peças de pano para o seu vendedor e mandou dizer-lhe dos defeitos que algumas peças tinham para que ele, por sua vez, informasse aos clientes. Porém, o vendedor esqueceu-se de informar aos compradores e vendeu todas as peças. Quando o Imam soube, ficou muito triste e doou o valor de todas peças em caridade que era de 30 mil dirhams. De salientar que ele poderia ter deduzido somente o valor das peças defeituosas.

 

Num outro episódio, apareceu uma senhora com uma peça de pano a pedir ao Imam para que a vendesse. O Imam perguntou o preço ao que ela respondeu: “cem dirhams”. O Imam disse: “Isso é pouco”. Então, ela disse: “duzentos”.

O Imam disse: “O valor desta peça não é menos de quinhentos”. Ao ouvir isso, ela disse: “Talvez estejas a gozar comigo”. Então, o Imam tirou quinhentos dirhams do seu bolso e pagou a mulher por tais peças.

 

O objectivo pelo qual o Imam praticava o comércio era o de ajudar as pessoas; ele pagava o ordenado de todos amigos, dos Álimos e de todos quanto faziam o trabalho de Din. Do seu negócio ele tinha definido uma parte dos lucros só para esse objectivo.

Quando comprava algo para a sua casa, comprava também para os Álimos. Se tivesse algum pobre, ajudava-o.

Em determinada altura, algumas pessoas foram ter com ele, um deles aparentemente estava mal.

Quando estavam a despedir-se, o Imam mandou-lhes esperar, indicou um saco com mil dirhams. Então, aquela pessoa disse: “Eu sou rico e não preciso”. Ao ouvir aquilo Abu Hanifa disse: “Se tens, não deves andar de maneira a que deixes em dúvida os que te vêem”.

 

Certa vez, o Imam ia visitar um doente, pelo caminho viu um homem que lhe devia dinheiro, este assim que o viu logo tentou esquivar-se, mudando de rota. O Imam chamou-o e perguntou: “Onde é que vais? Porque é que estás a mudar a rota por me veres?”

O homem respondeu: “É porque estou envergonhado, pois devo-te dez mil dirhams que ainda não os consegui pagar”. Então, Abu Hanifa disse: “Não é preciso fazer isso vou perdoar-te.” Certa vez, o Imam ia de viagem a Hajj. No caminho alguém trouxe uma pessoa e disse: “Este deve-me dinheiro e não quer pagar.

O Imam perguntou-lhe sobre a veracidade do que ouvira e a pessoa recusou-se a assumir a dívida. Então, o Imam perguntou qual era a quantia que o outro reivindicava. Ao que o homem respondeu: “quarenta dirhams”. Então, Abu Hanifa pagou do seu bolso, para resolver o diferendo.

 

Existem muitos outros exemplos da generosidade do Imam Abu Hanifa. Mesmo com tanto dinheiro que possuía não deixava de ser um homem extremamente humilde. Nunca ofendeu ninguém, nunca vingou-se de alguém, nunca faltou à promessa.

 

Numa outra narração, consta que um dia estava a dar lições no Massjid e uma pessoa que nutria inimizade por ele, começou a ofendê-lo e a dizer palavrões, perante toda gente. O Imam não o ligou, continuando o seu trabalho e até impediu os alunos de responderem.

Quando acabou de dar as lições levantou-se rumo à sua casa. O referido homem também o perseguiu, continuando com as suas ofensas.

Quando o Imam chegou perto de casa, parou e disse ao homem: “Ó irmão, esta é a minha casa. Se ainda tiveres mais coisas por dizer contra mim, é melhor completares, porque depois de eu entrar, podes não ter outra oportunidade.”

 

No bairro do Imam vivia um sapateiro muito divertido, ele trabalhava dia inteiro e no fim ia ao mercado e comprava vinho e carne. À noite fazia festa com os amigos, bebia e embriagava-se, começando a cantar.

Por causa do ibadat, o Imam dormia pouco à noite e frequentemente fazia o Salat de Al- Fajr com o Wudhu que fez no Ishá e por não dormir, ouvia sempre o barulho do sapateiro. Certa vez, a polícia prendeu o sapateiro por causa de alguma transgressão que ele cometera.

No dia seguinte, o Imam estranhou e falou aos amigos que na noite anterior não ouvira o barulho do vizinho. Então, as pessoas lhe contaram do sucedido. Imediatamente, o Imam preparou-se e foi ter com o Governador de Kufa. Quando este soube da vinda do Imam, o recebeu calorosamente e com toda a honra.

O Imam disse-lhe o motivo da sua ida até lá – o facto de o seu vizinho (sapateiro) ter sido preso, querendo a sua soltura. Logo, o Governador mandou soltá-lo. O sapateiro ficou impressionado com aquele gesto do Imam e a partir daquele dia deixou de praticar aquele hábito, fez tauba, começou a estudar com o Imam e tornou-se num grande Álimo.

 

O Imam temia tanto a ALLAH, que passava todas as noites no ibadat e a chorar. Ele tinha o hábito de dar lições no Massjid depois do Salatul Fajr. No Verão, descansava depois do al-zuhr. E retomava as lições depois de al-assr. O resto do tempo ia visitar os amigos, doentes e pobres. Entre o al-magrib e o al-isha dedicava-se às lições. Depois de al-isha ocupava-se no ibadat pela noite adentro. Não faltava ao tahajjud e zikrullah. Às vezes ia sentar-se na sua loja e cumpria com todas as tarefas.

 

Estes são alguns dos aspectos da vida do grande Imam Abu Hanifa, cuja sabedoria e interpretação é seguida por milhões de muçulmanos de todo o mundo.

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