A tolerância islâmica

07-02-2010 22:20

Umar ibn al-Khattab (que Deus esteja satisfeito com ele), no seu leito de morte, ditou um longo Testamento que consistia de instruções para o próximo Califa.

Naquele momento ele estava cheio de dores por causa dos ferimentos que  recebeu de um não muçulmano que o esfaqueou com um punhal envenenado quando ele conduzia a oração do Fajr (manhã).

 

Também deve ser lembrado que ele era o chefe de um vasto império que ia do Egipto até a Pérsia. Poder-se-ia ter esperado um acto de vingança ou uma rápida reacção. Umar (que Deus esteja satisfeito com ele), porém, não era um governante comum. (Os governantes iluminados de hoje enviam bombardeiros à menor  suspeita de conspiração). De um verdadeiro chefe de estado misericordioso poderíamos esperar uma tentativa de perdão ou esquecimento, o que já seria considerado nobre. Mas Umar (que Deus esteja satisfeito com ele), ao invés de vingança ou acto de violência, decretou uma ordem para proteger as minorias e cuidar delas.

 

O que é até mais notável é que para os historiadores muçulmanos toda a questão foi natural. Afinal de contas, foi o Califa quem estabeleceu as normas, escrevendo as garantias para a protecção da vida, da propriedade e da religião em decreto após decreto à medida que os muçulmanos iam conquistando territórios durante seu califado. O modelo estabelecido aqui foi seguido por séculos em todo o mundo muçulmano.

 

É claro que Umar (que Deus esteja satisfeito com ele) estava apenas seguindo o que tinha aprendido do Profeta Muhammad (que a Paz e Bênçãos de Deus estejam com ele). Que a protecção da vida, da propriedade e da liberdade religiosa das minorias é uma obrigação religiosa do estado islâmico. Que ele, pessoalmente, seria cobrado depois da sua morte por conta de um dhimmi que tivesse sido prejudicado por um muçulmano. Que não há compulsão na religião e que os muçulmanos devem ser igualmente justos com os amigos e os inimigos.

 

O resultado desses ensinamentos foi um governo muçulmano que criou um padrão de ouro para a tolerância religiosa num mundo que não estava acostumado a esta ideia. De um modo incrível, a história muçulmana  não regista inquisições, perseguições, caça às bruxas e holocaustos que mancham a história de outras civilizações. Pelo contrário, os muçulmanos protegeram as suas minorias das perseguições praticadas pelos outros. Protegeram os judeus dos cristãos e os cristãos do oriente dos católicos romanos. Na Espanha, sob os omíadas, e em Bagdad, sob os abássidas, cristãos e judeus gozavam de uma liberdade religiosa que não se permitiram entre eles ou em qualquer outro lugar.

 

Esta tolerância exemplar foi construída nos ensinamentos islâmicos. Toda a mensagem do Islão é que esta vida é um teste e que temos a opção de escolher o caminho do inferno ou o do céu. Mensageiros foram enviados para nos informar sobre as escolhas e nos advertir sobre as consequências. Eles não foram enviados para obrigar as pessoas a seguirem a senda recta. O trabalho dos muçulmanos é o mesmo. Eles devem transmitir a mensagem do Islão para a humanidade, porque eles a receberam. Eles não a modificam para torná-la mais atraente e nem obrigam as pessoas a aceitá-la.

 

Além do mais, os resultados na outra vida dependerão da fé. Porque todos os actos bons não têm qualquer sentido se não houver uma fé adequada. E a fé é uma questão do coração. Simplesmente não pode ser imposta. Não é uma idéia que os seguidores de outras religiões tenham compartilhado com o Islão. O resultado é que a experiência muçulmana no campo da tolerância foi exactamente o oposto do resto do mundo.

 

O caminho que o mundo ocidental tomou para promover a harmonia na sociedade foi banir a religião do cenário público. Para alcançar este objectivo, o ocidente pensa que ganhou ao censurar direitos nesta questão. Portanto, é bom lembrar que foram feitos muitos progressos no campo da tolerância no século que passou (e que deve ser elogiado) mas ainda resta um longo caminho antes que possa atingir os padrões estabelecidos pelo Islão.

 

Para os muçulmanos, a tolerância religiosa não é uma questão de postura política e sim uma obrigação religiosa muito séria. Eles devem ser uma força contra todo o tipo de intolerância, mesmo aquela que é promovida sob a capa da tolerância.

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