A superstição

11-04-2009 17:49

A superstição constitui uma parte integral da crença dos pagãos. Antes do ressurgimento do Islão, os árabes encontravam-se mergulhados em crenças supersticiosas, crenças essas que regulavam as suas actividades sociais, políticas e económicas.

 

Este fenómeno criou um sistema que veio semear medo, suspeitas e inimizades; veio privar o Homem de utilizar a sua capacidade de raciocínio e, todas as calamidades ou acidentes, eram atribuídos a forças ocultas que destruíam as suas vidas. Ainda hoje, muitas pessoas encontram-se envolvidas neste fenómeno por mera ignorância. Umas alegam questões tradicionais e outras, questões culturais. Mesmo pessoas que parecem ser religiosas, estão ligadas a isso duma ou doutra forma.

 

Muitas vezes, elas mergulham-se em tais actos quando são afectadas por doenças, morte no seio da família ou outro tipo de problema, ficando convencidas de que o curandeiro, o grande protagonista nestas situações, é a única solução para a resolução desses males que surgem no quotidiano de cada um.

 

A situação agrava-se ainda mais quando esses falsos “médicos espirituais” exploram as pessoas já aflitas e, aproveitando-se desse facto, desenvolvem negócios lucrativos “tratando as forças do mal”. Torna-se oportuno esclarecer aqui a função de um curandeiro. Ele é aceite como médico tradicional, se trabalha com raízes, plantas e tudo aquilo que possa contribuir para melhorar a saúde das pessoas.

 

Contudo, segundo o Shari’ah, ele não pode ser aceite como adivinho, pois isso vai contra os princípios do Islão, uma vez que ninguém conhece o futuro excepto ALLAH. Além disso, com as suas adivinhações, o curandeiro geralmente divide a família e amigos, pois é frequente acusar a mãe contra a filha, avô contra o neto, sogra contra a nora, etc. E, aquele que se intitula ser conhecedor do futuro, cometeu um dos maiores pecados que é o de se associar a ALLAH.

 

É extremamente proibido atribuir ao ser humano ou aos seus “espíritos”, qualidades que são exclusivas e que pertencem somente a ALLAH. Ele é Único e incomparável nos Seus atributos; Ele é Omniouvinte e Omnividente. Compará- Lo com algo ou alguém é um autêntico insulto e falta de consideração à Sua Majestade; tal prática é a que ALLAH mais detesta.

 

É importante salientar que a superstição é Shirk, ou seja, associa-se parceiros a ALLAH, pois a crença principal da pessoa torna-se deturpada e incorrecta, pondo em causa a sua fé (Imán) e o destino (Taqdir) traçado por ALLAH, o que é imperdoável. O sagrado Al-Qur’án diz:

“Nenhum infortúnio pode ocorrer na Terra nem (afligir) suas almas, que não tenha sido escrito no Livro (longo) antes de Nós o fazermos existir; na verdade, isso é fácil para ALLAH. “ Portanto, os infortúnios e desgraças ocorrem somente pela Vontade e Plano de ALLAH; nenhum poder ou força pode traçar o destino ou causar desastres à pessoa, excepto pela permissão de ALLAH.

 

Algumas das crenças supersticiosas mais abrangentes que existem ainda hoje são:

 

a) Mês de Safar

O mês islâmico de Safar é tido como um mês de infortúnios e má sorte. Os árabes da era pré-islâmica acreditavam que Safar era uma serpente que irrompia o estômago do homem e, neste mês, ela agitava a vida e causava vários tipos de doença e mal-estar. Por essa razão, acreditavam que as pessoas tinham maior probabilidade de caírem em desgraças neste mês. Devido a esses maus augúrios ligados ao mês de Safar, alguns muçulmanos crêem errada e ilicitamente que:

  • O casamento contraído neste mês não terá sorte e encontrará muitas desgraças;
  • Qualquer actividade importante ou negócio iniciado neste mês, resultará num fracasso;
  • Os primeiros treze dias deste mês são especificamente maus e repletos de azar.

 

Num Hadice narrado por Musslim, consta que o Profeta de Allah (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele) disse: “Não existem infortúnios no mês de Safar nem (existem) maus espíritos”. Numa outra narração, consta que: “Não injurie o tempo (isto é, não culpe o dia, semana ou mês de serem maus), pois Eu (ALLAH) sou (o Criador de) todo o tempo”.

 

b) Adivinhos e Cartomantes

Existem alguns impostores que pretendem conhecer o futuro através do contacto com “espíritos”. Juntamente com estes, estão também alguns vigaristas muçulmanos que se intitulam de “Sheh’s”, afim de se fazerem confundir com os verdadeiros Sheikh’s, nossos respeitados líderes religiosos.

Esses malandros até fazem publicidade nos jornais dizendo que curam tudo, até mesmo coisas incuráveis, incluindo falta de sorte; são uns autênticos burlões.

Essa é uma prática condenável no Shari’ah e nem pode ser chamado de muçulmano aquele que a pratica ou participa nela. O sagrado Al-Qur’án rejeita a possibilidade de alguém, para além de ALLAH, ser conhecedor do futuro:

“Diga: Ninguém, nos Céus e na Terra, conhece o oculto, excepto ALLAH.” “Se eu (Muhammad) tivesse conhecimento do oculto, eu teria tido abundância de bens e nenhum mal teria me atingido. Na verdade, Eu (ALLAH) sou apenas um Admoestador e Dador de boas-novas, para aqueles que crêem.”

 

c) Horóscopo e Astrologia

Os árabes pagãos utilizavam três setas como meio de decidir se poderiam proceder com determinadas tarefas ou não. Por exemplo, as palavras “meu senhor ordenou-me” eram escritas numa das setas, “meu senhor proibiu-me” numa segunda seta e a terceira era deixada em branco. Quando pretendiam efectuar uma viagem, casamento, combater o inimigo, etc., iam para o templo e retiravam uma seta. Se a seta retirada ostentava a inscrição positiva, então eles prosseguiam com os seus planos; se a inscrição fosse negativa, cancelavam a sua tarefa e, se retirassem a seta em branco, significa que deveriam repetir o processo até que encontrassem uma directiva clara.

 

Esta prática é semelhante aos horóscopos modernos, leitura da palma da mão, consulta à astrologia e outras práticas semelhantes. O Islão proíbe todas estas práticas e considera-as absolutamente Harám.

O sagrado Al-Qur’án diz: “E (também proibido) é predizer o futuro por meios de setas de adivinhação.”

O Profeta (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele) disse: “Se alguém adquirir conhecimento de astrologia, estará adquirindo uma parte da magia (que é absolutamente proibido)”. E disse: “O astrólogo é um adivinho, o adivinho é um mágico e o mágico é um descrente”.

 

d) Amuletos e Maus Augúrios

A mesma proibição é aplicada àqueles que acreditam que os amuletos possam protegê-los contra maus espíritos, azares ou mau olhar. O Profeta (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele) disse: “Que ALLAH não satisfaça os desejos daquele que usa amuletos; que ALLAH não proteja aquele que ostenta conchas do mar (usadas pelos adeptos do feitiço)” [Ahmad].

Numa outra narração, consta: “Aquele que usa amuletos, será abandonado à sua mercê (dos amuletos)” [Tirmizi]. Certa vez, Abdullah Ibn Mass’ud (que Allah esteja satisfeito com ele) viu que a sua esposa usava um fio com nós à volta do seu pescoço; então, ele puxou e rebentou-o dizendo: “A família de Abdullah está proibida de associar algo a ALLAH, para o qual Ele não deu qualquer autorização”. Depois prosseguiu:

Eu ouvi O Profeta de Allah (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele) a dizer: Encantos, amuletos e escritos (proibitivos) são Shirk”. Atribuir maus augúrios ao gato preto, número treze, mulher grávida, utilizar a faca no momento do eclipse, entre vários outros factos semelhantes, não é mais do que pura superstição.

  

e) Magia e Feitiço

No Islão, praticar magia é equivalente ao Kufr (descrença). Assim como consultar adivinhos e cartomantes é Harám para os muçulmanos, da mesma forma, também é Harám procurar ajuda de mágicos, feiticeiros e curandeiros. O Profeta (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele) rejeitou esse tipo de pessoas dizendo: “Aquele que se dirige a um adivinho (ou mágico) e acredita naquilo que ele diz, renegou aquilo que foi revelado a Muhammad”.

E disse: “O astrólogo é um adivinho, o adivinho é um mágico e o mágico é um descrente”. Numa outra narração, consta: “O alcoólatra, aquele que acredita na magia e aquele que quebra laços familiares não entrarão no Paraíso”.

 

f) Outras Crenças Supersticiosas

Hoje em dia, encontramos várias pessoas que adoptam mitos na sua vida. Por exemplo, se durante a viagem, passa um gato preto à frente da viatura na qual viaja, a pessoa mostra-se desgostosa e considera essa viagem azarada, temendo algum incidente negativo. E se, por acaso, um gato mia durante a noite, pensase que se trata da comunicação de um mau acontecimento que está para breve.

Quando a vida não corre conforme a sua expectativa, a pessoa acha que os seus antepassados estão a interferir com o seu bem estar, provocando inquietação e turbulência no seu dia a dia, daí que recorrem à “missas” para sossegá-los; e se forem muçulmanos, convocam um “Ziyárat” para o mesmo efeito.

 

Todas essas informações cedidas pelos curandeiros são falsas, pois estes não são nada mais do que mentirosos e sem escrúpulos pois, muitas vezes, aproveitam-se da situação aflituosa em que as pessoas (clientes) se encontram para tirarem proveito disso.

 

Conclusão

Umar Ibn Abdul Aziz (conhecido como Umar, o Segundo), disse: “Eu aconselho-vos a observarem a piedade e a temerem ALLAH; a manterem uma vida balanceada, obedecendo as ordens de ALLAH e seguindo o Sunnat de O Profeta de Allah (que a Paz e Bençãos de Allah estejam com ele); eu exorto-vos ainda contra inovações introduzidas pelos Ahle-Bid’ah (adeptos das inovações) e aconselho-vos a se afastarem deles...” [Abu Dawud].

 

O Islão não é uma religião baseada em dogmas supersticiosos. Pensar que os “maus espíritos” são causa de desastres, calamidades e todo tipo de dificuldade que o indivíduo encontra, é ser defeituoso. Infelizmente, o ser humano sempre preocupou-se com soluções fáceis, temporárias, rápidas mas ineficazes, que são as proporcionadas pelos curandeiros e todos aqueles que são da mesma laia.

 

A solução definitiva, permanente e eficaz está nas Mãos de ALLAH. É d’Ele que tudo e todos dependem, incluindo os curandeiros e os próprios supersticiosos. Nos últimos tempos, nós tornamo-nos vítimas de suspeitas, ódio e medo; tornamo-nos cegos pelas nossas próprias fraquezas e deficiências e, simplesmente, atribuímos a forças externas, todas as calamidades que nos surgem. Se queimarmos os nossos jardins com as nossas próprias mãos, como poderemos reclamar com o inimigo? Ninguém é nosso inimigo excepto nós próprios; devíamos ter vergonha pelo facto de sermos os nossos próprios inimigos!

 

Que ALLAH nos conceda o Taufiq de compreendermos o que foi aqui descrito.

 

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