Halal ou haram? - Parte 2

12-04-2009 02:09

De entre a longa lista de comidas duvidosas e Harám, os produtos à base de carnes estão em primeiro lugar. Tais produtos, nas suas variadas formas, são preparados e vendidos em casas de comidas rápidas em todo o lado sob o disfarce de “Halál”.

Os certificados Halál duvidosos são exibidos para os Muçulmanos desatentos. Estes ficam satisfeitos com esta segurança duvidosa, compram e consomem sem hesitações. Pior ainda, mesmo as suas famílias, inocentes estão expostas àquela situação. Tal prática é prenúncio de mal-estar para o futuro do Ummah Muçulmano.

 

A maior preocupação é o número cada vez mais crescente de casas de pastos não- Muçulmanas, mas que ostentam o sinal Halál. Várias vezes têm sido alertados os Muçulmanos para tal situação, mas infelizmente parece que tais alertas caiem em ouvidos de mercador. Os doces e comidas enlatadas não devem ser consumidos sem, pelo menos, verificar os seus ingredientes. Quando houver dúvida sobre algum produto deve-se, primeiro, esclarecer a questão junto dos Ulamás.

 

Hoje em dia, nota-se em nossas hostes e não só, o uso abusivo e indiscriminado do termo Halál em quiosques, bares, restaurantes, etc.

É questionável se os que escrevem essa palavra sabem ou não o seu real significado, o seu alcance, bem como as suas implicações. É frequente o seu uso em locais incompatíveis com o significado da própria palavra, como por exemplo em locais onde se servem bebidas alcoólicas, se consomem carnes impróprias para os crentes Muçulmanos.

 

 O conceito Halál não se restringe apenas à comida e à bebida, mas também ao vestuário, ao negócio, à adoração às relações sexuais, enfim, à toda actividade quotidiana.

Cada muçulmano quando adquire comida ou carne, deve investigar a sua proveniência, bem como a sua composição, para aferir se o que está comprando é Halál ou não. O Muçulmano deve ser muito cuidadoso na aquisição de produtos alimentares em estabelecimentos, devendo antes ler os rótulos para saber quais os ingredientes usados no seu fabrico, pois por vezes um único ingrediente não-Halál, torna todo o produto Harám. Por exemplo, as bolachas, os bolos, as sopas, os sorvetes, os doces, os chocolates, etc., não se devem comprar, nem se devem comercializar sem antes se determinar os seus ingredientes.

 

Infelizmente entre nós, há alguns Muçulmanos desleixados, atraídos pelo aparente brilho social dos outros, a ponto de os transformarem em seus ídolos, assimilando os seus hábitos e costumes, muitas vezes bizarros, tudo fazendo para não os contrariar. E se alguma prática islâmica faz parte dos hábitos desses ídolos, ficam animados e satisfeitos, mas se tal prática contraria os ensinamentos islâmicos, tentam sempre encontrar alguma forma de interpretação ou harmonização com o único fito de agradar a esses seus patrões.

Para esses, o Halál é o que foi decretado Halál pelos outros e o Harám é o que foi decretado Harám pelos outros. Esqueceram-se que o Islam é a palavra de ALLAH, sendo uma palavra completa, para ser seguida.

 

Portanto, o Muçulmano não só deve abster-se do Harám, mas também das coisas duvidosas, e cada um deve conhecer as coisas Harám para que assim se possa abster.

 

O Harám é espiritual e físicamente prejudicial. ALLAH Ta’ ala, na Sua infinita Bondade e Graça para com os Seus servos, proibiu o consumo de Harám devido aos seus terríveis efeitos no corpo e alma do Homem. O Harám está poluído e contaminado. Surge e desenvolve-se da imundície. A sua composição é sobretudo de imundície. Isto causa sérios danos aos órgãos, tecidos e outras partes do corpo. A saúde humana é atingida e vulnerável a doenças. Assim, o corpo é sujeito a tormento, dor, sofrimento e agonia. O trauma mental resultante dessa situação é uma fonte adicional de angústia.

Para além disso, a doença, no mundo actual, é uma calamidade; é muito caro ficar-se doente hoje em dia. Os custos médicos são elevados e proibitivos e é por si só um assunto doloroso.

 

Face ao que foi descrito, por um lado, é melhor e sensato praticar um pouco a restrição e abstinência do Harám e comidas duvidosas, poupando-se neste caso a desastres físicos e espirituais.

Por outro, uma atitude descuidada sobre este assunto – comer sem cuidado – as suas consequências manifestar-se-ão tarde ou cedo. Uma pessoa inteligente e sensível optará por uma atitude de precaução e abstinência quando for necessário. Refrear os desejos do coração e as vontades do estômago é o segredo de uma pessoa íntegra e a forma de ser dos Muçulmanos devotos.

 

Os princípios básicos sobre a lei dos alimentos são mencionados no Al-Qur’án. As leis sobre alimentos são explicadas e postas em prática através do Sunnah (a vida, acções e ensinamentos de Rassulullah SALLALLAHO ALAIHI WASSALAM e suas ilustrações pelos Sahábas R.A.), segundo registos em Hadices. Estas leis são rigorosamente observadas pelos Muçulmanos, independentemente da etnia e origem geográfica. A aplicabilidade das leis se enquadra em vários contextos, de entre os quais salientam-se:

 

O consumo de carne putrefacta e animais mortos

É geralmente reconhecido que comer carne putrefacta é ofensivo para a dignidade humana e nenhuma pessoa sã a consome, mas a carne de animais mortos não é fora do comum nos países ocidentais.

Um certo número de animais morre de choque antes de serem devidamente abatidos. A carne de tais animais não seria apropriada para o consumo dos Muçulmanos. Por isso, é necessário que haja uma monitorização adequada e supervisão cerrada pelos Muçulmanos nos matadouros.

 

Abate adequado

Existem requisitos rigorosos a obedecer para o abate de animais:

a) O animal deve ser da categoria Halál.

b) O animal deve ser abatido por um Muçulmano.

c) O nome de Allah deve ser pronunciado no momento do abate;

d) O abate deve ser feito cortando o pescoço num certo ponto, abaixo da glote e a base do pescoço, de modo que o animal tenha morte rápida. O esófago deve ser cortado juntamente com a veia jugular e a artéria carótida. A corda espinal não deve ser cortada e nem a cabeça deve ser cortada completamente. e) Existem outras condições que também devem ser observadas. Estas incluem dar um tratamento adequado ao animal, o uso de uma faca bem afiada, etc. Estas condições garantem que haja um bom tratamento ao animal antes, durante e depois do abate.

 

A partir do exposto está claro que ambos a Fé e o exacto método são condições essenciais para o abate Islâmico de animais correctamente.

A obrigação de pronunciar o nome de ALLAH antes de degolar um animal serve para enfatizar a santidade da vida e o facto de que toda a vida pertence a ALLAH. Se um Muçulmano omitir intencionalmente o pronunciamento do nome de ALLAH no abate do animal, será considerado Harám mesmo se as veias e artérias exigidas tiverem sido cortadas (Capítulo 6, Versículo 121 anteriormente

mencionado).

Contudo, se o abatedor tiver tido a intenção de mencionar o nome de ALLAH, mas devido ao esquecimento tiver omitido, o animal será, neste caso Halál. Pronunciar o Tassmiyah ou apenas ‘BISSMILLAH’ também se traduz em sentimento de carinho, compaixão e serve para prevenir a crueldade.

 

Métodos modernos de morte por choque

Ao contrário dos métodos envolvendo choques eléctricos ou mecânicos, o método Islâmico é sem dúvidas o melhor, mais digno e mais eficiente no abate de animais para consumo.

Produz morte devido à rápida perda de sangue, elimina a dor e permite que o animal sangre totalmente. A história dos matadouros eléctricos e mecânicos prova claramente que depois de mais de meio século de experiências, não há um único método de morte por choque que pode ser considerado “digno” para os animais ou que produza carne da qual o máximo possível de sangue tenha sido extraído. O único beneficiário do abate eléctrico ou mecânico de animais é a indústria de carnes. Estes métodos proporcionam uma alta produtividade no processamento de carnes. Usando estes métodos, uma larga quantidade de animais pode ser abatida num determinado tempo e as vantagens económicas são dessa

forma muito maiores. Tem sido no interesse dos estabelecimentos comerciais a aplicação de métodos que envolvem o abate por choque como uma maneira de impedir que o animal fira os abatedores.

 

Muitas vezes, o valor comercial é bem sucedido em conseguir passar a legislação para apoiar e fazer vencer aqueles métodos. Sendo o Islam uma religião viável para todos os tempos, questões contemporâneas são revistas caso a caso pelos Juristas Islâmicos. Portanto, dados os constrangimentos apresentados, alguns métodos de choque têm sido permitidos. Os matadouros que implementam os métodos de choque necessitam de ser rigorosamente monitorados, visto que alguns animais morrem depois do choque e antes do abate (ou por fraqueza ou por atraso no abate depois de sofrerem o choque, ou devido à contundência do aparelho de choque). Isto torna o animal Harám.

Mais ainda, se não pode ser certificado se o animal morreu antes ou depois do abate, a carne tornar-se-á duvidosa. Será, portanto, não permitida para o consumo dos Muçulmanos.

 

Abate mecânico

Desde que as condições básicas para o abate Islâmico, anteriormente descritas, sejam adequadamente obedecidas, a legalidade do abate mecânico pode ser considerada. Mais ainda, o operador da máquina e a pessoa que manuseia as aves no local do abate deve ser Muçulmana e o nome de ALLAH deve ser pronunciado no abate de cada ave (o pronunciamento gravado é totalmente incorrecto). Todas as veias e artérias devem ser devidamente cortadas para permitir que o animal sangre total e adequadamente.

Apesar deste método não estar de acordo com o Sunnah, pode porém ser aceitável se as condições mencionadas forem cumpridas.

 

Suíno

Carne de porco, banha ou qualquer produto ou ingrediente derivado, são categoricamente proibidos para o consumo do Muçulmano. Todas as possibilidades de contaminação a partir da carne de porco para os produtos Halál devem ser evitadas completamente.

De facto, no Islam, a proibição vai para além do consumo; por exemplo, um Muçulmano não deve comprar, vender, transportar, abater ou tirar benefícios, de forma alguma, de suíno ou outros meios Harám.

 

Sangue

O sangue que se derrama (em líquido) não é geralmente vendido nos mercados ou consumido, mas os produtos que são feitos a partir do sangue e seus ingredientes são. Existe uma concordância geral entre os estudiosos religiosos de que qualquer alimento obtido a partir do sangue é ilícito para os Muçulmanos.

 

Álcool e outros tóxicos

As bebidas alcoólicas, tais como o vinho, a cerveja e as bebidas espirituais são estritamente proibidas. Os alimentos que contêm quantidades de álcool, por menores que sejam, são também proibidos pois, tais alimentos, por definição, tornam-se impuros. As drogas e outros tóxicos que afectam a mente, saúde e o desempenho em geral são também proibidos. Os tóxicos são considerados prejudiciais para o sistema nervoso por afectarem os sentidos e discernimento humanos, o que conduz a problemas sociais e familiares e em muitos casos à morte. O consumo directo, ou misturado com alimentos, destes produtos são completamente ilícitos.

 

Aditivos, produtos derivados e constituintes extraídos

O princípio é de que se um aditivo ou extracto é derivado de uma fonte Halál, então este também será Halál, e poderá ser adicionado às misturas de comidas Halál sem afectar de forma alguma o produto final. Porém, se o aditivo for derivado de uma fonte não-Halál, então este também não será Halál, e irá contaminar o produto final se for adicionado à misturas de comidas. Os aditivos Harám contaminam o produto final e tornam o alimento ilícito para o consumo do Muçulmano.

Os aditivos, temperos e outros de origem não animal e não alcoólica são unanimamente aceites.

 

Higiene

As comidas Islâmicas estão baseadas na limpeza, saneamento e pureza. Todos os utensílios devem estar limpos e livres de contaminação de quaisquer substâncias ilícitas e impuras.

 

É nosso Duá fervente de que ALLAH faça deste sonho uma realidade e guie a todos nós para que nos empenhamos ao serviço da Humanidade e que Ele seja agradado por todos nós. Ámeen.

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