Halal ou haram? - Parte 1

12-04-2009 02:08

Halál é uma palavra Al-Qur’ánica que significa lícito, legal ou permitido. No que se refere à comida, é o padrão Islâmico dietético, segundo o prescrito na Shari‘ah (Lei Isslámica). As linhas gerais do Al-Qur’án ditam que todas as comidas são Halál, excepto aquelas que são especificamente mencionadas como Harám, isto é, ilícitas, ilegais ou proibidas.

 

O Sagrado Al-Qur’án diz:

Ó, crentes! Comei dos alimentos puros que providenciamos por sustento e agradecei a ALLAH se for só a Ele que adorais.” (Capítulo 2, Versículo 172)

Os alimentos proibidos são especificamente mencionadas no Sagrado Al- Qur’án nos versículos que se seguem:

“Ele somente proibiu-vos o animal encontrado morto, o sangue, a carne de suíno e tudo que tenha sido degolado sob a invocação de outro nome senão o de Allah...” (Capítulo 2, Versículo 173)

“São-vos proibidos o animal morto (que morreu de morte natural), o sangue, a carne de porco, os animais que foram degolados sob a invocação de outro nome fora de ALLAH, os animais estrangulados até à morte, os mortos por espancamento, os mortos devido à queda ou dilacerados e mortos por chifres, os devorados (despedaçados) por um animal carnívoro, excepto os que são degolados ritualmente ainda com vida. São-vos proibidos também os animais sacrificados para os ídolos.” (Capítulo 5, Versículo 3)

 

O consumo de álcool e produtos tóxicos é proibido de acordo com o seguinte ensinamento:

“Ó crentes! A bebida alcoólica e os jogos de azar, os ídolos e as setas de adivinhação, são uma abominação do trabalho de Satanás. Evitai-os para que possais ser bem sucedidos.” (Capítulo 5, Versículo 90)

A carne é o produto estritamente mais regulado no grupo dos alimentos. Não somente o sangue, a carne de porco e a carne de animais mortos ou imolados são fortemente proibidos aos olhos do ALLAH, exige-se também que os animais Halál sejam abatidos pronunciando o nome de ALLAH na altura do abate, tal como o atestam os versículos que se seguem:

Comei dos alimentos sobre os quais o nome de ALLAH tenha sido pronunciado se acreditais nas Suas revelações. (Capítulo 6, Versículo 118)

E não comeis dos alimentos sobre os quais o nome do ALLAH não tenha sido mencionado porque isso é uma abominação... os demónios inspiram os seus amigos para que discutam convosco. Mas se lhes obedecerdes, por certo sereis idólatras.” (Capítulo 6, Versículo 121)

 

Do mesmo modo, é permitido o consumo pelos Muçulmanos, de todos os alimentos puros e limpos. A Jurisprudência Islâmica contém certos princípios descritos em Hadices para determinar se um certo animal ou ave é lícito ou ilícito.

Na terminologia de Fiqh o termo “não halál”, ao contrário de “Halál”, pretende indicar que no sistema “Halál” e “não-halál” do Shari’ah existem graus de contaminação e não-contaminação, do mesmo modo que existem níveis de legalidade e ilegalidade. A seguir apresenta-se a definição de cada um dos termos técnicos de Fiqh que se referem aos graus de comida Halál e não-halál:

Halál (no contexto da comida) refere-se aos alimentos que são positivamente legais para serem consumidos pelo Muçulmano.

Harám – é o oposto do Halál e por isso refere-se aos alimentos que são positivamente ilegais e absolutamente proibidos.

Makruh – refere-se aos alimentos que são abomináveis. Estes são classificados em duas categorias:

Makruh Tanzihi – refere-se àquilo que é ligeiramente reprovado. Estes estão próximos do Halál.

Makruh Tahrimi – refere-se àquilo que é severamente reprovado. Estes estão próximos do Harám.

Mubáh – refere-se aos alimentos neutros ou indiferentes, que podem ser consumidos ou evitados; “Ibáhat” (permissibilidade, legalização) é o princípio básico de todas as questões e coisas que o Shari’ah não proibiu nem condenou.

Mashkuq existe uma área cinzenta entre o claramente legal e o claramente ilegal. Esta é a área do que “é duvidoso”. O espírito Islâmico ordena aos Muçulmanos a evitarem coisas duvidosas de forma a manterem-se longe do que é ilegal.

 

Rassulullah (sallallaho alaihi wassalam) disse: “Halál é claro e o Harám é claro. Entre os dois existem questões duvidosas sobre as quais as pessoas não sabem se são Halál ou Harám. Quem os evita para salvaguardar a sua religião (Din) e a sua honra está salvo, enquanto se alguém se satisfaz nele pode estar a satisfazer-se no Harám...”

O Islam é uma religião compreensiva que guia os Muçulmanos através de um conjunto de regras que orientam todas as facetas da vida. Uma vez que a comida é uma parte importante do dia a dia, as leis sobre a comida revestem-se de especial significado. A filosofia Islâmica sustenta que a comida consumida pelo Homem afecta não só a sua constituição física, como também o seu carácter moral e o estado espiritual.

 

As comidas lícitas e ilícitas podem ser agrupadas em categorias:

 

O Reino Animal

Este inclui animais terrestres e peixes (com barbatanas e guelras). Todos os peixes do mar e águas fluviais são permitidos. Há porém, diferença de opinião entre os Juristas sobre a permissão de outros frutos do mar, por exemplo, camarão, caranguejo, etc. Não há nenhuma exigência no abate de animais aquáticos. Entre os animais terrestres, o porco é especificamente proibido, bem como os animais carnívoros, certas aves e outros animais.

Os produtos derivados (ovos, leite) dos animais Halál, enquanto vivos são permitidos para os Muçulmanos, salvo se houver contaminação por qualquer ingrediente proibido nos produtos inicialmente Halál, por exemplo, o uso de pepsina ou coalheira animal na indústria do queijo.

 

O Reino Vegetal

Todos os produtos derivados de plantas são legais para o consumo do Muçulmano, excepto quando forem fermentados até ficarem alcoólicas ou quando conterem tóxicos ou ingredientes prejudiciais aos humanos.

 

O Reino Mineral

Geralmente as substâncias derivadas de fontes minerais ou petrolíferas são Halál excepto aquelas que podem tornar-se tóxicas ou aquelas que constituem perigo para a saúde.

 

Todas as vidas, tanto as dos animais assim como as dos humanos pertencem a ALLAH. Contudo, os animais foram criados para o benefício do Homem, pelo que este deve tratá-los adequadamente. É com esta base que o Islam considera determinados animais como sendo alimento para o Homem e prescreve como a respectiva carne pode ser tornada pura e lícita (Halál) para o consumo.

O Al-Qur’án ordena à Humanidade a consumir o que é Halál, criado por ALLAH na terra e a não obedecer os passos do satanás.

Por isso, a moderação é a melhor forma, porquanto não se deve comer tudo indiscriminadamente, nem abster-se de comer o que é bom e lícito, como fazem os ascetas. As categorias que se seguem, incluindo

seus derivados ou por si contaminados, são declaradas ilícitas (Harám):

Carne putrefacta ou animais mortos (morte natural). Aqui estão incluídos os mortos por estrangulamento, por embate violento, por queda de cabeça, feridos até à morte ou devorados por outro animal selvagem. A carne putrefacta e animais mortos são impróprios para o consumo humano, pois o processo de decomposição conduz à formação de químicos prejudiciais ao Ser Humano.

Sangue fresco ou coagulado. O consumo de sangue seja de que animal for é Harám, pois este contém organismos causadores de várias doenças. Tais organismos circulam no sangue sem que o corpo manifeste qualquer sintoma da doença, daí que seja prejudicial consumir sangue. Igualmente, a carne que contenha muito sangue constitui um perigo potencial de contracção de doenças causadas por organismos contidos no sangue.

O sangue tirado dos animais contém bactérias prejudiciais, produtos de metabolismo e toxinas. Daí que o método a usar no abate do animal para consumo humano deve permitir o dreno total do sangue nele existente. Um dos efeitos prejudiciais no consumo de sangue e da carne rica em sangue é psicológico, pois tal pode induzir a uma psicose carnívora e, por consequência, a um comportamento antropófago e violento.

Porco e seus derivados. Serve como vector para os vermes patogénicos penetrarem no corpo humano. As infecções causadas pela Traquinela Spiralis e Ténia Solium são comuns. O ácido gorduroso, a composição da gordura de porco, é incompatível com a gordura humana e sistemas bioquímicos. A carne do porco é expressamente proibida e descrita como imunda e impura, pois o porco vive na imundície, dela se alimentando, pelo que o Islam nos proíbe tudo o que seja sujo e não higiénico.

No caso da carne suína, não é apenas o Al-Qur’an que impõe a proibição no seu consumo mas também a Bíblia:

Também o porco, porque tem unhas fendidas e a fenda das unhas divide em duas, mas não remói, este vos será imundo. Da sua carne não comereis, nem tocareis no seu cadáver, estes vos serão imundos. Levítico 11, Versículos 7 e 8

Animais degolados ou abatidos pronunciando outros nomes fora de ALLAH.

Animais degolados ou abatidos sem o pronunciamento do nome de ALLAH.

Animais mortos de forma que seu sangue não tenha saído na totalidade. Os animais que morrem por causas naturais são universalmente considerados como ilícitos ou impróprios para o consumo humano. Os animais podem também morrer devido a doenças ou ao comer plantas venenosas, sendo por isso impensável considerar a carne desse tipo de animais para alimentação.

Animais que utilizam dentes ou garras para caçar e devorar as suas presas, como leões, leopardos, ursos, lobos, cães ou gatos são também todos Harám.

Há ainda os que mesmo sendo herbívoros, como é o caso do burro, da mula e do elefantes, são Harám;

Aves com unhas aguçadas que recorrem às suas garras para caçar ou rasgar as suas presas (aves de rapina), como falcões, águias, mochos, abutres, etc. As aves que não recorrem às suas garras para caçar e que alimentam-se de grãos, como por exemplo, a galinha, o pato, o pombo, o peru ou o avestruz, são Halál.

Os que não têm sangue, como mosca, aranha, escorpião, formiga, piolho, gafanhoto, etc.). Exceptuando o gafanhoto que é Halál, todos os outros são Harám.

Os que têm sangue, mas que não é corrente (cobra, lagartixa, osga, etc.), todos eles são Harám.

Os que têm sangue corrente, como o rato e a toupeira, que escavam a terra vivendo debaixo dela, esses são Harám. Deste grupo exceptua-se o coelho que é Halál. Os animais que têm sangue corrente e

que se alimentam de ervas e grãos, não rasgam com os seus dentes nem caçam, sejam eles domésticos ou selvagens, são Halál; por exemplo, o cabrito, o camelo, o boi, o carneiro, o búfalo, a gazela.

 

Nos termos de Shari´ah, é Makruh Tahrimi consumir as seguintes partes de animais ou aves, mesmo que estes sejam Halál, e devem ser completamente evitadas:

• Órgãos sexuais do macho e da fêmea;

• Os testículos;

• A bexiga;

• A vesícula biliar (isto inclui a bílis);

• O sangue dum animal ou ave abatido que foi derramado;

• O gânglio (i.é, qualquer pedaço rijo na parte tendinosa). Um pedaço de carne proveniente de doença entre a pele e a carne. Um quisto como inchaço do tendão. (Isto inclui as glândulas que tenham se tornado espessas; a medula espinal, veias e nervos que se tornaram rijos, e também o tecido ósseo rígido ligado ao osso).

 

É Makruh consumir a carne de animais que habitualmente se alimentam de sujidade sem que antes sejam mantidos num local fechado (de “quarentena”) durante algum tempo e alimentá-los com produtos limpos e sãos, limitando-os deste modo o consumo de sujidade antes de serem degolados. O período de “quarentena” recomendável é de três dias para a galinha quatro para o cabrito e dez para o boi ou o camelo.

 

A falta de cuidado no consumo de alimentos duvidosos ou Harám é um sinal de um Imán (fé) “doente”. Se o estado de negligência sobre o que se consome perdurar, futuramente o Halál/Harám serão eventualmente vistos como assuntos triviais, fazendo com que o Imán “sufoque” e “morra”.

A julgar pelo crescente número de Muçulmanos que comem fora em casas de pastos ou em outras lojas de comidas rápidas, parece que esta tendência é crescente, em proporções alarmantes no seio dos Muçulmanos.

O Harám está-se a tornar tão comum e corrente entre as pessoas, que dificilmente ficam chocadas ou perturbadas, quando algo é descoberto como sendo Harám, embora possam estar a consumir tal coisa há muito tempo. Quase que nem pestanejamos. Nem o remorso ou um pouco de sentimento de culpa toca o nosso coração. Este é um sinal claro de um coração dessensibilizado.

 

No passado, as pessoas podiam não ser muito escolarizadas ou informadas como parece hoje, mas estavam conscientes das questões do Halál/Harám. A estes assuntos era lhes dedicada enorme atenção, mesmo as crianças pequenas eram avisadas (ensinadas) a observar para sempre em suas mentes e corações os preceitos Islâmicos. E porque as pessoas se tornaram tão desleixadas no que respeita ao Harám? Parte da resposta pode ser encontrada numa atitude cada vez mais vulgar e num equívoco que prevalece: pensa-se que desde que a pessoa não saiba que determinada coisa é Harám, consumi-la não o fará mal. Tal forma de pensar está totalmente errada.

 

Os efeitos do Harám permanecerão, não importa se o produto foi consumido com conhecimento ou sem conhecimento. É como consumir veneno. Somente um apoucado de inteligência poderá acreditar que a falta de conhecimento sobre uma substância venenosa irá neutralizar o efeito do veneno. O veneno é veneno e assim permanecerá independentemente do conhecimento ou ignorância sobre os seus efeitos: irá actuar, matar ou causar sérios danos.

Com as comidas Harám é a mesma coisa. Matam espiritualmente ou causam sérios danos espirituais ao consumidor.

 

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